sexta-feira, 8 de julho de 2011

Teatro Contemporâneo na contemporaneidade

Parece até piada quando lembramos que é preciso muita perseverança e força de vontade para querer realmente fazer teatro contemporâneo na nossa época. Piada primeiro pois fazer teatro não é algo assim tão respeitado, pior ainda querer romper com o que a mídia impõe. Se você fala para alguém que não é de teatro que você é ator, provavelmente perguntará que novela você já fez na globo, e se você falar que faz teatro certamente ele te perguntará: Isso dá dinheiro? Pois é, o que conta em nossa sociedade hoje é isso.
Com a descrença total de que algo possa mudar no mundo, em sua maioria os cidadãos procuram formas de se manterem em boa situação financeira, fecham os olhos para as misérias e cada vez mais se focam em si mesmos.
Para atingir esse cidadão contemporâneo, a arte precisou mudar sua forma de se relacionar com o espectador, traçando uma relação horizontal, não mais os atores estão acima do espectador, mas pelo contrário, os dois, ator e espectador compartilham uma experiência. Utilizando-se de espaços alternativos, o teatro pós-dramático não só rompe com o espaço convencional mas também com a idéia de personagem, no sentido  stanislaviskiano. Não há psicologismo, apenas o ator em situação, o mais importante é a relação, é a experiência, a ação e não a psique da personagem, importantíssimos no teatro convencional.  
Muitos os que praticam teatro contemporâneo organizam-se em “teatro de grupo”, que é uma forma de fazer teatro,muito utilizada pelo menos em São Paulo, onde o modo de produção também é diferente do dito convencional, a relação entre diretor e atores é horizontal, e a produção, colaborativa. Como falar de uma produção onde todos opinam numa sociedade tão individualista e capitalista e onde tem se discutido tanto os tais direitos autorais?
O Teatro Contemporâneo discute as questões atuais de um modo mais abstrato, utilizando-se de signos abertos, como acontece numa cena do espetáculo da Pina Bausch que tem uma mulher se debatendo na parede com uma panela amarrada na cintura Ou então no espetáculo do grupo “Teatro da vertigem” que tinha um homem passando uma carne com ferro de passar roupa. Ao se deparar com signos assim, o espectador tem várias possibilidades de leitura e poderá até chegar numa leitura que ninguém nunca teve antes.
Não é mais preciso ter uma “historinha” como antes, são ações que estão ligadas, mas não é preciso que estejam visivelmente ligadas, mas tem pontos em comum, foram criadas por um grupo de pessoas pensando em algum tema, com algum motivo.
         Além de discutir a sociedade contemporânea, discute o próprio teatro, subvertendo-o, mudando-o, procurando outra forma que ainda não foi criada para discutir um determinado tema.
Numa sociedade que a maioria das pessoas não freqüenta teatro e a maioria das que freqüentam vão nas peças da indústria cultural, qual o nosso posicionamento como artistas e educadores para que esse tal teatro contemporâneo chegue ao conhecimento do povo? Será isso possível, dadas as circunstâncias sociais e educacionais atuais?
Talvez devêssemos então, nos posicionar como cidadãos, mas será que mesmo nos manifestando, mesmo fazendo protestos com várias  pessoas, se é que iríamos conseguir juntar tantas, pensando no Brasil onde o povo torna-se cada vez mais individualista e desespenrançoso com relação a mudanças sociais conseguiremos alguma real mudança?
Pode ser que agora não mude nada, porém creio que se continuarmos apáticos como estamos, a tendência é piorar cada vez mais a situação sócio-cultural.